Autor: Edson Amorim
Vou contar uma
história
Do Avô do João Pescador
Que viveu no Pantanal
E hoje do Céu é morador
Foi por Jesus autorizado
A rever o seu passado
No Pantanal onde morou
Seu Avô, o Pedro Contente
Que a pescar lhe ensinou
E um dia pela velhice
Essa terra ele deixou
E na Igrejinha
foi velado
E ali ao lado sepultado
Onde a cruz o João fincou
E tendo João esgotado
Os casos por ele vividos
João contou esta estória
Do Avô a tempo morrido
Um caso de arrepiar
Mas ouvi atento contar
O funesto caso do falecido
Contou que
alma do Avô
Veio do Céu lhe visitar
Ele numa
noite pescando
Na sua canoa veio sentar
Era uma
imagem de luz
Que por
Jesus fez ele gritar
Disse não se
assuste João
Sou seu Avô
Contentão
Do Céu
acabei de chegar
Reconhecendo
sua viva voz
E o modo como
ele falava
Logo teve então a certeza
Da alma que
se apresentava
Disse: sou
mesmo o neto seu
E se fosse da
parte de Deus
Jurou, que a
alma escutava
Mas sentiu
fortemente
Que o
coração disparava
Seu corpo
todo esfriou
E o cabelo se
arrepiava
Mas redobrou
a coragem
E de olho na
dita miragem
Foi ouvindo
o que falava
Contou lhe a
alma do Avô
Que pra vir
Jesus autorizou
E do Céu
veio voando
Nem de GPS
precisou
E já um
tanto avexado
Mirou o
Pantanal alagado
E na sua
canoa pousou
Depois disse
ao Neto João
Que muito
bem ele estava
E que do dia da sua morte
De tudo
ainda se lembrava
Daquele dois
de setembro
Disse eu ainda
me lembro
Do túnel que
atravessava
Disse que
subiu bem ligeiro
Nesse túnel
em branda luz
Uma voz
dizia Caminho do Céu
E muitas placas
escritas Jesus
Outras, siga voando em frente
Em paz e bem
sorridente
E não
esqueças da tua cruz
Disse que subiu
meio triste
Um tanto
desconsolado
Lembrava que
tinha morrido
E seu corpo
fora enterrado
Mas muitas
lembranças levou
Do Pantanal,
onde morou
Do rancho,
família e alagados
Pelo túnel
iluminado guiado
A uma grande
porta chegou
“Céu
Universal” estava escrito
Abrindo a
porta se apresentou
A sua frente
uma névoa pairava
Uma luz
forte ao fundo brilhava
Que seu olho
da alma ofuscou
Foi então
acolhido por um Anjo
E as regras celestes pra ele leu
E antes de
levá-lo a São Pedro
Com água
benta ele benzeu
Uma túnica
branca nele vestiu
E o
passaporte logo expediu
E nele uma carimbada
deu
Mas nisso, o
Anjo Gabriel
Se mostrando
muito educado
Assistente
da portaria do Céu
Disse fique
ali quieto e sentado
E se você
não for louco
Espere aqui
um pouco
São Pedro
está ocupado
Quando viu,
lá vinha o xará
De barbas
brancas cumpridas
Com monte de
chave na mão
E uma
túnica branca vestida
Sandálias velhas calçado
Um cruz no peito pendurado
Sorrindo, de
bem com vida
Com voz
mansa lhe perguntou
Do seu nome
de batizado
Falou o nome
e sobrenome
Disse Pedro,
vou ver seu passado
A um Anjo
servo ordenou
O livro do
céu, traz por favor
Vou ver se ele está registrado
Então com o
livro na mão
Começou
esmiuçando
E na letra
“P” viu anotado
E as folhas
foi revirando
Pecados tem um punhado
Todos aqui estão registrados
Sei que deles tá lembrando
Dando logo a
ordenação
Disse fique
ali ajoelhado
Reze com fé
dez terços
Arrependido e bem
devotado
E como uma
penitência
Peça a
Deus por clemência
Naquele
Altar Sagrado
E sua alma
ainda rezando
No altar
mais que sagrado
Viu então chegando Jesus
E ao seu lado iluminado
Com ternura assim lhe
falou
Pelo bem teu
coração pulsou
Meu filho
estas perdoado
Disse Jesus calmamente
Que por Ele foi ordenado
Traze-lo logo
para o Céu
Pois na
terra estava cansado
Conforme
disse seu Anjo
E reconhecido pelo arcanjo
No livro, estava relatado
Jesus de
barba comprida
E de olhos
esverdeados
Atentamente
o olhando
Disse, tu
estás santificado
Todo amor
aqui empregue
E teu espírito
me entregues
Que é o teu
fardo pesado
João, no céu
tens galardão
Por ter sido
bom pescador
Pois quando
estive na terra
Como
discípulo, me ajudou
E depois que fui crucificado
E pelo Pai, ao céu chamado
Minha
palavra inda pregou
Jesus disse, que João o discípulo
Sua palavra de fé
anunciou
E com Pedro, perseguido,
foi preso
Depois sua Igreja
fundou
E como prometido
havia
Tendo chegado seus
dias
Pra junto Dele, os
levou
Jesus assim pro Avô falou
Você tem bom coração
Os peixes que sobraram
Você doou pro
irmão
Leste a minha palavra
E no dia a dia praticava
E aos cristãos dela falou
Sempre você foi humilde
E a ganância não praticou
Também Eu vejo aqui
Que a Tua
alma é boa
Na vida
sempre se dedicou
E fostes
excelente pessoa
Nunca
tiveste um inimigo
Só tiveste
bons amigos
A amizade
sempre prezou
Com mansa
voz foi falando
Disse: sei
que fostes pescador
Por amor a
minha natureza
O rio e o
peixe, preservou
Então estás
convidado
Pra provar
do meu pescado
Na Santa Ceia
do Redentor
Me falou
sejas bem vindo
A casa do
Pai Universal
Pega ali com
São José
A Cartilha
da lei Celestial
Ela tem que
ser respeitada
Aqui é o
tudo ou o nada
É fé, bom
humor e alto astral
Disse ao
misericordioso Jesus
Mestre muito
obrigado
Carreguei
vossa cruz sagrada
No chão contrito
ajoelhado
Nesse
paraíso irei fazer
Meu amor
inda mais crescer
Eternamente
ao Vosso lado
O bem que não fiz em vida
Farei neste solo sagrado
Não existe
aqui meio termo
Ou é o sim
ou é o não
Pisaste
neste Céu sagrado
Que ouviste
falar em sermão
Aqui a lei
não é corrompida
Como a que
viste em vida
De até
rasgar a Constituição
La é só ter
dinheiro no bolso
Que não vai
para a prisão
Aqui é bem
diferente
Desrespeitou,
vai pro porão
Estando lá é
só avisar
Que o
inferno manda buscar
No seu a
jato camburão
Sem querer fazer média
Disse ao Supremo Pastor
Pra aquecer nossa fé
Eu o Antônio e o Adão
E demais Cristãos juntamos
Batizados, crentes ou não
Construímos a Igrejinha
Depois fizemos procissão
E as mãos nós juntamos
E ajoelhados, oramos
Como humildes irmãos
Daquele dia em diante
Cantando em seu
louvor
No altarzinho uma
Cruz
E a imagem do Senhor
Nossa Mãezinha e
Rainha
E os Santos da
ladainha
Tem lá também seu
penhor
Disse ainda pro meu
Senhor
Que na Igrejinha
pantaneira
Sua terrena história
contei
Mas não sei se contei inteira
Desde quanto foi
anunciado
E pelo Espirito Santo
gerado
E nascido da virgem
de Maria
Lá á nossa protetora
e Rainha
É A bondosa Mãe do
Senhor
Também a Mãe
Pantaneira
Carregada por nós em
andor
O Senhor é o Nosso
Rei
Perdoou-me quando
pequei
E quando doente, me
curou
O Avô inda com Jesus proseado
Como dois velhos amigos
Com Sua mão em seu ombro
Disse: sempre estarei contigo
Senti a paz que nunca senti
Momento em que renasci
No Céu, meu eterno abrigo
Jesus contou da vida
na terra
Ele nascido da Vigem
Maria
Da pregação da Boa
Nova
A crucificação e a
agonia
De como Ele
ressuscitou
Depois os discípulos
enviou
Tudo como o Pai
queria
Me explicou que ali
no céu
A vida é afetuosa e
terna
Não se contam os dias
É uma estação eterna
Todos são quase
iguais
Amor sim, pecado
jamais
A vida é bela e
fraterna
Tem os pastores
terrenos
E os anjos guardiões
Que ajudam organizar
As diárias procissões
E as almas revoltadas
Voltam pra ser
encarnadas
E terminar suas
lições
Disse Jesus em calma
voz
Tua fé é grande eu
sei
A Igrejinha
pantaneira
Muitas vezes eu
visitei
Anjos do céu moram lá
E os que enviam para
cá
De lá muitos doentes,
curei
Revelou que
lá no Céu
Tem um
templo erguido
Com arquitetura divina
Por Salomão construído
Todo de mármore lustrado
Com diamante decorado
E um altar de rubi polido
É onde
frequentam os Santos
E fiéis pra
louvor e devoção
E os Anjos
ficam voando
Entoando sublime
canção
E ao som de
flautas andinas
Canta um
coral de voz divina
E o Maestro
é Abraão
Deus a
Suprema divindade
E Jesus o
Bom Pastor
O Divino
Espirito Santos
São os
Generais do amor
Também a
Virgem Maria
No Céu e na
terra é Rainha
Tem
misericórdia do pecador
Moisés, João
Batista e José
Os profetas
todos em luz
Seus
Discípulos escolhidos
Maria
Madalena e Paulo
Os dois
segurando a Cruz
Papas de fé
reconhecida
Pela sua
pregação em vida
Esses homens
estão na Luz
A luz que
aquece as almas
Nem é quente
e nem é fria
Belos
jardins bem cuidados
Parecendo a
ilha da fantasia
Tem
nuvenzinhas rasantes
Rezas e
procissões constantes
Organizado
pela Vigem Maria
As almas tem
os afazeres
Quando não
estão meditando
Tudo é feito
com amor
Não se vê
tempo passando
Lá não tem
choro e nem vela
As cores é
como aquarela
Mas o branco
se destacando
Lagoas
límpidas e coloridas
Por lindos
trigais rodeadas
E o sagrado
e bento alimento
Junto às
aguas santificadas
Ao lado tem
jardins e florais
Com
girassóis angelicais
Pelas boas
Almas, cuidadas
Sendo bom
nordestino
Vou logo te
apresentar
O Santo Frei
Damião
Que não para
de pregar
E ali tocando
luar do sertão
É Luiz
Gonzaga, rei do baião
Pras almas todas
animar
Disse Mestre
quero conhecer
Nossa
Senhora Aparecida
Jesus disse,
olhe do lado
Ali está a
Mãe querida
No seu altar
consagrado
Com seu
manto azulado
Como esteve
em vida
Ela sempre
te olhou
Toda noite e
todo dia
Pescando
sobre chuvas
Pra você era
uma agonia
Sempre ti
abençoou
E dos
perigos de ti livrou
Do bicho, raio e da ventania
Quando vez
foi mordido
Por um
Quati malvado
E pelo rio
foi remando
Gemendo
adoentado
Ela contigo
estava
Tua dor
amenizava
Até te ver
sarado
O céu é
muito bonito
O céu é
grande demais
Um Universo
paradisíaco
Só tem dia e
noite jamais
As estradas
suspensas são
As nuvens é
a condução
Pra
contemplar os trigais
Tem até
avião e aeroporto
Pras almas
bem comportadas
Ir viajar
pelas galáxias
Em dias e
noites enluaradas
E até as
brancas nuvenzinhas
Que voam
calmas e baixinhas
Sobre os
jardins nas alvoradas
E as milhões
de andorinhas
Que cortam
os céus do céu
Dando um
show as tardinhas
Depois dele
muito agradar
Jesus passou
lhe um sermão
Não olhe para as Anjinhas
Com qualquer
má intenção
Está escrito
ai no caderno
Serás
mandado pro inferno
É pecado sem
perdão
São Pedro
que foi pescador
E pra matar
a saudade
Liberou as
lagoas celestes
Pra uma
pesca de verdade
Seu irmão
André organizou
Pois tinha
capacidade
Convidou os
pescadores
Entre
obreiros e doutores
E o premio
era a santidade
As regras
foi logo ditando
Só um peixe
pode fisgar
E pagará
dura penitência
Aquele que
tentar burlar
Isca só
massinha de pão
E o fiscal
será São João
Pro peixe fisgado pesar
E todos
pescadores pescando
Juraram e
tiveram obediência
Porque no
Céu a coisa pega
Se houver
teima e saliência
Mas adivinha
quem ganhou
Com seu
nervo e impaciência
São Pedro o
“maior” pescou
E na balança
São João “pisou”
Pra ganhar
da concorrência
E os peixes
foram doados
Pra tirar o
peso da consciência
No Céu
encontrei amigos
Pescadores
que conheci
Uns lá do Nordeste
Outros foram
daqui
Severino
Carabina
Sebastião Lamparina
Zé Jaú e o Zé
Pequi
O xará Pedro
Malandrão
Luizão da Cartucheira
Valdomiro Mal
Falado
E a Maria Perdigueira
A Terezinha Perdiz
E o Cassimiro
Infeliz
E a Josefina
Tranqueira
Vi também os
Santos
Que tenho
por devoção
Aqueles que
já falei
Também São
Sebastião
Santo
Antônio e São Tomaz
E um tanto
sem crachás
Que o nome
não sei não
Vi lá alguns
parentes
E algumas ex-namoradas
Seguiam na
procissão
Quão almas
comportadas
E na fila da
celebração
Vi meus
pais, avós e bisavós
Padrinhos, tios
e tataravós
E deles fui pedir
benção
Um dia pra
São Pedro pedi
Pra ele com
Jesus falar
Ver se ele
autorizava
Eu, meu
Pantanal visitar
Ao menos uma
vez
A cada seis
mês
Pra ver meu Neto
pescar
Jesus foi
muito bacana
Veio
pessoalmente fala
Você é bem
comportado
Acho que vou
autorizar
Escreveu e
assinou
E na
portaria entregou
Pra eu poder
sair e entra
Mas disse
com autoridade
Que no Céu
só ele tem
Vê se vai e
volta certinho
Fala com ele
e mais ninguém
Disse juro
pela minha morte
Pois sou uma
alma de sorte
Vou pela
estrada do além
Antes de
voltar pro céu
Em forma de
luz cadente
Um abraço
ele deixou
Pra amigos e
parentes
Dizendo que
iria voltar
E pra mais
vezes visitar
O pantanal e
sua gente
Mas o que
veio fazer
Falou assim
de repente
Disse meu querido
Neto
Quero te
fazer um pedido
É uma
pequena missão
Sobre um
dinheiro escondido
Um pouco do
que ganhei
No pé da
figueira enterrei
Quero que
seja dividido
Não é muito
dinheiro
Mas o céu
veio contestar
Quero que a
metade
Na missa da igreja
vá doar
E o total remanescente
Vou te dar
de presente
Pra um barco
novo comprar
Assim como meu Avô pediu
Eu fui lá e
cavoquei
E o dinheiro
enterrado
Todo lá eu
encontrei
Comprei o
barco e motor
E como
recomendou o avô
A metade pra
Igreja doei
Nessa época
era jovem
Um moleque
adolescente
Meu Pai inda
estava vivo
Só um pouco
doente
Pro meu Pai eu
contei
Que com meu
Avô falei
Eu e ele
frente a frente
Meu pai durão
nordestino
Disse deixe
de besteira
Quem se foi
não volta mais
Resta só sua
caveira
Desse jeito
duvidou
Mas vi que
ele rezou
Aquele dia a
noite inteira
Com a lamparina acessa
Bem perto da cabeceira
Nuca mais
sua alma vi
E só posso
imaginar
Deve ter
perdido a hora
Pra no céu
ele reentrar
E São Pedro
o castigou
E a
permissão revogou
Não deixando
mais voltar !!
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