Autor: Edson Amorim
Meu velho e querido berrante
Na parede do ranchão pendurado
Saudoso dos tempos de glória
Com semblante pelo tempo desgastado
Igual a mim, companheiro que o tocou
Hoje com os cabelos esbranquiçados !
Olho pra ele assim o contemplando
E na minha mente vou relembrando
O seu toque a frente da boiada repicado
E uma lágrima que não se contém
Vendo a tristeza nos olhos ela vem
E pelo pranto eu sou tomado !
À noite sonho o tocando no estradão
Este meu velho berrante companheiro
Que pelos sertões afora me acompanhou
Até o triste e saudoso dia derradeiro
Quando o tempo nos obrigou a parar
E descansar do duro trabalho estradeiro !
Era mesmo uma vida sem descanso
Levando e trazendo boiada
Ao toque deste amigo berrante
Desde as primeiras horas da madrugada
Repicando à frente e chamando
Na graça da Virgem Imaculada !
Vez ou outro o retiro dali da parede
E com ele vou até o terreiro
Ensaio um toque dos tempos da ativa
Assoprando este meu velho companheiro
É de arrepiar se repico o toque da Ave-Maria
Ele parece chorar e chora também o berranteiro !
Berrante que deu conta do recado
Entoando toques e repiques encantados
À frente do gado calmamente chamava
Pra seguir em frente até o destino marcado
Eu o segurava como um raro troféu
E o tinha e tenho como irmão consagrado !
Seu toque era afinadíssimo
Uma sinfonia até parecia
Uma sinfonia até parecia
Vez uma sagrada oração
Quando repicava a Ave-Maria
Vez era saudoso e melancólico
Pois saudade também ele sentia !
Este hoje calado e saudoso berrante
Historias tem nele guardadas
De passagens, imagens e situações
À frente de grandes boiadas
Entoando seus encantados toques
Nas vermelhas e longas estradas !
Quando seu magnífico toque entoava
Ao longe no esmo sertão se escutava
Até os pássaros em meio às matas
Para escutá-lo todos silenciavam
E as morenas dos vilarejos
Pelo tocador se encantavam
Seus corações batiam mais fortes
E lenços brancos da janela acenavam !
A natureza também o ouvia
Tais como rios, riachos e cascatas
E todos os animais da natureza
Escondidos entre os recantos das matas
E quando seu toque não mais se ouviu
O verde das florestas ficou cor de prata !
Querido e velho berrante estradeiro
Pelos deuses seu toque foi inspirado
Do chifre do boi surgiu “ele" instrumento
E pra chamar a boiada foi retornado
E pra levar aos ouvidos do mundo
O seu majestoso toque encantado !
Queria que quando me fosse
O meu berrante que vale ouro
Fosse ele muito bem cuidado
Como um estimável tesouro
Uma arte do chifre do touro
Que aqui na terra deixo guardado !!
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