Autor: Edson Amorim
Em meio a centenas de lagoas pantaneiras
Esquecido ali se encontra um antigo ranchão
Desgastado pelo tempo repousa em silêncio
Construído ainda na época do antigo sertão
A muitos anos e anos não é mais habitado
Perdido em meio a vasta e natural vegetação !
Ranchão que resiste o passar dos tempos
Com suas portas e janelas destroçadas
O vento chacoalha as poucas palhas
Que ainda cobrem sua estrutura desgastada
Porém nestas madeiras podres e ressecadas
Ele traz lindas histórias guardadas !
Os pardais habitam seus apodrecidos beirais
Fazendo ninhos e criando seus filhotinhos
São vidas que ainda com carinho ele hospeda
Além dos morcegos, insetos e lagartinhos
Até que o tempo o venha consumir por inteiro
Será o teto seguro pra esses seus amiguinhos !
Neste ranchão eu nasci, cresci e vivi
Com minha família por anos morando
Ele fica bem próximo ao Rio Paraguai
Onde a chalana e barcos passam navegando
Foi o refugio da minha infância querida
Que passo horas com carinho recordando !
Lugar que era tão alegre, tão belo e de paz
Perfeito para as aventuras de criança
Hoje tristonho, vivendo de sonhos
De ser reformado tem ainda esperança
Abandonado está no vasto Pantanal
Somente os bichos e aves são sua herança !
Rodeado por muitas ervas daninhas
Encravadas nos seus alicerces encanecidos
Fazem-no companhia para agasalhá-lo
Consolando-o e mantendo-o aquecido
Cresceram ali também para preservá-lo
Até seus restos, pelo tempo, ser consumido !
Ali vivi dias felizes e inesquecíveis
Admirando o sol nascente e o sol poente
E ouvindo o cantar dos tantos passarinhos
Que no quintal vinham cantar alegremente
E também as Araras que ficavam a gralhar
Enfeitando os vizinhos arvoredos, docemente !
E eu parava pra escutar e contemplar
Toda a natureza ao redor daquele ranchão
Que guardei docemente na lembrança
Como um raro tesouro de estimação
A chalana e os barcos indo e vindo no rio
Tinha de mim toda especial admiração !
As revoadas dos pássaros pantaneiros
Traduziam-se em um espetáculo da natureza
Que eu diariamente e feliz apreciava
Toda a sua fantasia, singeleza e nobreza
Sem falar das aves na tardezinha em seus ninhais
Era o Pantanal mostrando vida e grandeza !
Meu saudoso Pai sentava a soleira da porta
Daquele encantado e hoje velho ranchão
Cantava músicas ouvidas no rádio
Enquanto tocava seu afinado violão
Aquilo alegrava os nossos ouvidos
Nossa alma, espírito e o coração !
Hoje a varanda do ranchão está derrubada
Espaço que era aconchegante e arejado
E em meio às ruínas internas
O fogãozinho de lenha está desmanchado
Quando vi, meu coração fez chorar
Quando vi, meu coração fez chorar
Revendo esses cantinhos tão abençoados
Pareceu-me que uma parte de mim
Pelo tempo também foi assolado !
Aquele meu ranchão hoje é uma velha tapera
No abandono, tristonho vai envelhecendo
E enquanto pelo tempo final ele espera
De saudades vai decompondo, se corroendo
A natureza amiga o observa sendo tombado
E nas garras do tempo aos poucos vai morrendo !!
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