Fui um boiadeiro do estradão
Esta foi minha querida profissão
Levava e trazia grandes boiadas
Cortando lugarejos do antigo sertão
Era uma vida sofrida, porém animada
Montado em meu cavalo alazão !
Desde menino tive essa inclinação
Era dom divino na alma e no coração
Ainda pequeno e com pouca idade
A lidar com o gado fui aprendendo
E assim durante toda minha mocidade
Essa vida com prazer fui vivendo !
Saudades sinto da comitiva estradeira
E de toda peonada amiga e campeira
Que minha vida de peão muito marcou
Sinto o cheiro da poeira e da boiada marchando
E pareço até ouvir o som do berrante tocando
E o encanto dos toques que ele repicou !
E o gado caminhava numa toada constante
Ao comando do toque do encantado berrante
Que quebrava o silêncio do esmo sertão
A frente ia o boiadeiro ponteiro guiando
E acenando um pano vermelho, avisando
Que grande boiada vinha no estradão !
A harmonia da comitiva era exemplar
E a abençoada paz era sentida ao viajar
De Nossa Senhora Aparecida era a devoção
Pela sua santa graça tudo se resolvia
E nada de mal a peonada acontecia
Pois dela tinha santificada proteção !
À frente iam os sinueiros e cavalos cargueiros
E ante os gritos de comando dos boiadeiros
Iam cruzando campinas, chapadões e serras
Nas mais distantes e longínguas terras
A comitiva tocando a boiada ia rompendo
De saudoso meu coração fica doendo !
E quando o sol ia se pondo no horizonte
Era hora de parar logo ali adiante
E encontrar um lugar pra descansar
Nas paragens incertas e pernoitar
E depois de a boiada estar num lugar fechado
Do cavalo pra descansar todos apeavam
E num riacho ao lado se banhavam
Enquanto o cozinheiro da comitiva preparava
O arroz carreteiro e o feijão bem temperado
Que com apetite a peonada degustava !
Depois ao redor da fogueira reunidos
Uma viola afinada acalentava os ouvidos
Que um dos nossos peões tocava
As musicas acirravam ainda mais a saudade
Da amada que ficou na cidade
Ansiosa com os olhos na estrada, esperava !
Lembrando, lágrimas dos olhos vão rolando
E a saudade como brasa no peito vai queimando
Vejo-me com aquele chapéu de abas quebradas
E na cintura uma bonita goiaca
Presa a ela um jogo embainhado de facas
E calçado com botas com esporas rosetadas
Vestido com a calça de couro
Montado no meu cavalo alazão de ouro
No estradão, atrás do poeirão da boiada !
Relembro as mocinhas com lenço acenando
Nos vilarejos que a comitiva ia passando
Sem malícia os boiadeiros adoravam
E a noite os solteiros com elas sonhavam
Hoje saudoso e com o corpo cansado
Relembrar o passado, me faz renovado !
Rastros de saudade pelo Brasil, deixei
Nas estradas sem fim que andei
De cada viagem restou uma recordação
O tempo da mocidade rapidamente passou
O boiadeiro estradeiro envelheceu, se cansou
Mas conheceu a gloria e o amor no coração
Fui herdeiro, virei fazendeiro criador de boiadas
Na mente, só ficou lembranças guardadas
Dos dias de luta e vitórias no estradão !
Tinha coragem, arrojo e valentia
Respeitava a todos que meu amigo se dizia
Da boiada do patrão eu zelava
E vigilante de nada eu descuidava
Tinha dele toda a confiança
E sua filha foi minha herança
Hoje em dia sou grande fazendeiro
Dono da Fazenda Esperança !!